Entra e vê os mil pequenos entraves
e depois escuta, põe teu ouvido no chão:
e a música da minha flauta transversa
ou da minha flauta mambi -
dessas de índio brasileiro,
de cócoras,
distraindo a solidão das borboletas.
É a música da minha flauta transversa
que talvez te atravesse e te acorde
no meio do oceano:
ela vai demarcar a tua área,
vai erguer as paredes de tua ocasa,
reunir teus peixes, bichos, carrapatos,
curar a tua maleita, tua doença de branco
e te fazer sonhar com a voz de uma iara
esquecida numa curva de rio
ou num grotão de cerrado.
Mas vai também te vestir de penas,
como se fosses mesmo o inesperado chefe
de uma tribo perdida na linguagem.
(Gilberto Mendonça Teles)
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